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segunda-feira, 18 de junho de 2012

Elela




Para ele, o relacionamento estava indo muito bem. Estavam ficando há pouco mais de um mês, mas não se sentia a vontade de pedir a menina em namoro. Achava que ainda estava cedo e nesse pouco tempo não podia formar nem um centésimo da figura real dela. Embora quisesse muito formalizar esse pedido, se continha todas as vezes que encontrava com ela. Afinal, adorava ficar ao lado dela, ela o fazia sentir muito bem. Sentia-se outra pessoa quando estava perto dela. Na verdade, se sentia como ele mesmo era, já que sempre tinha que interpretar papéis na frente dos outros. Mas com ela não, não era assim. Ela o deixava de um jeito em que ele não se sentia envergonhado em ser quem realmente era. Não tinha vergonha de falar qualquer bobagem que pensava ou de expressar cada comentário maldoso sobre alguém na rua. Com as outras pessoas, ele não se sentia tão a vontade de tocar nesses nem em outros assuntos. Mas tinha uma coisa esquisita naquilo tudo. Nunca tinha sentido isso por ninguém, era difícil de ele aceitar que, pela primeira vez em sua vida, ele estava nas mãos de outra pessoa que não fosse ele próprio. A ideia de estar atrelado a alguém o assustava. Não gostava de depender de ninguém. E olhe só, agora ele estava lá, de quatro por essa garota que ele conheceu não faz muito tempo. Totalmente dependente. Esse fato o assustava e o levava a recuar um pouco, a tratá-la mal, às vezes. Não porque não gostava dela. Mas porque desse modo, ele se sentia um pouco dependente dela. Porém, ele estava enganado, pois eram justamente nesses momentos em que ele se sentia mais atrelado a ela. Nessas brigas em que ele verificava que a cada dia que passava, ele gostava cada vez mais dela. E isso o colocava pra baixo, não sabia explicar o porquê disso tudo.


Ela, por sua vez, também não estava totalmente confiante no relacionamento. As brigas frequentes a abalavam. Mas, sobretudo, os momentos de indiferença que o parceiro tinha. Ela sempre buscava expressar o quanto estava gostando daqueles momentos em que passavam juntos. Mas ele raramente falava algo. Assim ficava difícil de a menina saber o que estava realmente se passando na cabeça dele. E só falar, falar, falar, cansava! Mas ela nunca deixava de elogiar o momento e de enfatizar o quanto estava gostando, na esperança de que ele falasse um simples “Eu também!”. Não que não estivesse passando por um momento muito especial na sua vida. Estava adorando ficar com ele, conhecer uma pessoa nova, conhecer uma nova realidade totalmente diferente da dela. Todos os elogios vinham de dentro, nenhum era forçado ou falado da boca pra fora. Ela até tentava esconder, mas sua felicidade era tamanha que ela não conseguia. Sua vontade era sair contando para o mundo todo que estava gostando muito dele. Mas, sabendo que isso era difícil, contava só para o próprio. Mas tinha decidido em ficar quieta, não falaria nada mais. Passaria fita adesiva se pudesse. Se não atrapalhasse nos beijos quentes que sempre tinham... Só que isso não tirava a eterna dúvida da garota: “Será que ele está mesmo interessado em mim ou será que só quer se divertir comigo?”. E ela não tinha um bom histórico em casos amorosos. Grande parte das pessoas em que ela se envolveu largou dela quando a situação estava sinalizando para ficar séria. Assim, foi forçada a criar certa barreira para casos amorosos. Suas amigas diziam que ela era alérgica ao amor, e ela, às vezes, concordava com tal adjetivo. Mas com ele não, ela não tinha medo de se entregar, de apostar. Sabia que essa era uma atitude arriscada, uma vez que se ela se decepcionasse, sua queda seria maior ainda. Mas não tinha medo de altura. Queria investir, pagar pra ver. Estava muito interessada naquele mundo novo, um mundo em que nunca estivera antes, um mundo em que a vontade de cantar e dançar no meio da rua vem do nada, em que o sorriso é peça presente todos os dias em seu figurino. Mas ainda necessitava de saber se aquilo tudo que sentia era correspondido. Queria saber se ela partilhava aqueles mesmos sentimentos com ele. Isso ainda deixava a garota vestida com uma armadura, com medo de que com esse, que ela acreditava que fosse diferente dos outros, se mostrasse o pior de todos que ela já havia se envolvido.

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