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sexta-feira, 11 de maio de 2012

Inércia


Passou a virada do ano beijando muito. Coisa que não fazia há tempos. Pensava que começando o ano dessa forma, seu destino iria mudar. Até porque dizem que você passa o resto do ano do mesmo jeito que o começa. Mas não estava sendo bem assim. Já passava de agosto e nada até agora! Já tinha quatro meses que nem beijava na boca. Mas também, mal saía de casa. Achava que o amor de sua vida iria, num belo domingo de sol, tocar seu interfone. Ela desceria para recebê-lo e ele estaria lá, lindo e loiro, sentado no banco de couro de sua Ferrari vermelha. Cavalo não, até porque ela era muito urbana pra isso. Subiria no carro e, assim, eles seriam felizes para sempre. Mas já se passara tanto tempo e nada aconteceu. Já tinha terminado a faculdade, era advogada. E já trabalhava num famoso escritório de advocacia desde seu penúltimo semestre de curso. Era independente financeiramente e, por sinal, ganhava muito mais do que a maioria dos seus colegas  experientes. Quase todos os casos que pegava, se saia vitoriosa. Então, o que lhe faltava pra conseguir desencalhar? Todas suas amigas já estavam casadas, e algumas, inclusive, com filho ou até filhos. E ela ali, passando seu domingo assistindo Eliana e comendo pipoca acompanhada de um bom copo de Coca-Cola. Diet, é claro. Sonhava com o dia em que seu telefone tocasse ou seu chat do Facebook apitasse. Imaginava essa cena sempre com um homem lhe chamando para ir ao cinema, ou para um restaurante japonês jantar. Só isso iria tirá-la do tédio de domingo. Até proposta de sexo ela estava aceitando. Imagine só quanto tempo ela estava na seca? Nem sua mão estava aguentando mais aquela situação. Já tinha até tentado entrar em site para descolar um encontro... nem que seja sexual. Mas, seu estado físico não estava tão bom assim, por mais que ela não assumisse isso. Por passar os fins de semana trancada em casa, só comendo pipoca e porcarias, estava um pouco a cima do peso. Um pouco não, muito! Mas sentia que desse modo ela estava bem. Tinha até uma auto-estima muito elevada. Mas, você sabe como os homens de hoje são, só querem saber se a mulher é magra, tem peitão e bunda durinha. E ela não tinha nada disso. Quer dizer, a gordura sempre parava toda no traseiro, que não era nada duro. Era só ela ligar a cam que o cara desistia. E ela, sempre pensava que a internet havia caído ou que era a câmera que estava falhando. Internamente, sabia de sua condição. Mas, não tinha vontade nem ânimo de levantar do sofá e ir dar uma corrida na praça. Tinha preguiça de ir até a cozinha encher seu copo de um litro com mais refrigerante! Quem dirá caminhar por uma hora? Era muito imediatista e sabia que se caminhasse hoje, teria que manter o ritmo para conseguir as medidas aprovadas pela sociedade. Até porque ela considerava seu peso como o ideal. E ela não tinha força de vontade nem para arrumar um namorado. Só saía de casa para trabalhar. Nem tinha vontade de nada. Queria ser cortejada. Tudo isso sem sair de casa, ou melhor, sem levantar do seu confortável sofá de estampa de vaquinha. Até que teve uma idéia: se inscreveria num programa de namoro na TV.