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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Admirável rede nova


Alberto era um pai de família. Beirava os cinqüenta anos. Tinha um casamento que vivia só de aparências há uns bons seis anos. Filhos, dois meninos, bem educados. Mérito da mãe, diga-se de passagem. Um emprego meia boca na firma do cunhado. Não soubera aproveitar as oportunidades. Não fez faculdade. Tinha um sonho de ser advogado, quando criança. Desistira por ser muito difícil e ter que ler muito. Não era muito dado a leituras. Foi muito mimado pela mãe e, em seguida, pela esposa. Na empresa, mal precisava trabalhar, atendia só alguns telefonemas durante o dia. Sabia que seu cunhado não o demitiria. O restante de seu tempo ele ocupava com seu principal divertimento atual (nem tão atual assim, já havia três anos): observar menores de idade pela webcam. Fechava a porta do seu gabinete, ativava as persianas da janela que dava para rua. E entrava no chat. Conseguir um menino que topasse ligar a câmera era fácil, ainda mais em tempos de Big Brother. Começou a usar o computador há uns seis anos. E nesse tempo fizera grande progresso nas descobertas da rede. Primeiro, descobriu os sites de fotos de criança nuas, mas aquilo não era o suficiente. Passou a se comunicar com os jovens através de um Orkut fake. Sua boa aparência, apesar da idade, sempre contou para a persuasão dos meninos. Tinha até um Messenger exclusivo para falar com seus pequeninos, como dizia.
 Suas vítimas preferidas iam de catorze aos dezesseis anos. Se passasse um mês sequer disso, dispensava, já considerava velho. Ele não tinha nenhum tipo de culpa. Não via mal nenhum em observar a beleza e a inocência desses jovens, segundo ele mesmo pensava. Na sua cabeça, o que era errado era encontrá-los pessoalmente para alguma coisa a mais. Mas não! Longe de ele fazer isso. Isso sim era errado! Pela internet, na informalidade, tudo era válido. Não mostrava o rosto, nem fazia questão de que os meninos mostrassem também. Só queria ver o corpo e o sexo deles. Muitas vezes queria fazer mais, além de ver. Perdeu as contas de quantas vezes se masturbara olhando aquelas crianças fazendo o mesmo. Muitas vezes sentiu vontade de encontrar, mas, seus valores o impediam.
Para ele, o fato dele só gostar de ver crianças do sexo masculino não significava que ele era gay. Pelo contrário, ele gostava de mulher. E muito. Quase toda quinta-feira depois do serviço ia se divertir com garotas da vida, essas, maiores de idade. Mas fazia anos que não tinha uma relação sexual com a esposa, nem recordava de como tinha sido a última. Provavelmente havia sido pouco depois do nascimento do segundo filho. O tesão por ela havia acabado quando a vira toda gorda e cheia de marcas, devido à gravidez. Não lembrava se a primeira vez fora assim. O bom das prostitutas era que elas nunca envelheciam e nunca engravidavam.
Um dia, como todos os outros, abre o chat e começa a conversar com os garotos. Um chama atenção de Alberto. Era educado, não usava abreviaturas e tinha um português muito bom. Destacava-se frente aos outros que só falavam linguagem de favelado, segundo o coroa. Ganhou pontos. Tinha quinze anos. No ponto. Logo, trocaram os endereços do Messenger. Quando viu a foto do corpo rapidamente pensou: hoje vai ser com esse. O papo estava muito bom, conversavam sobre tudo, mas quando Alberto pedia para o garoto abrir a câmera, este relutava. Mais difícil era melhor. Conversaram por umas boas três horas e estava quase na hora de sair do trabalho. Precisava bater uma ali mesmo, rápido, mas tinha que ser com esse menino. Insistiu mais vezes até que ele finalmente aceitou. Ligaram a webcam. Surpresa. Ele sabia que conhecia aquela barriga de algum lugar. Será que era de alguém que ele já havia tido intimidades virtuais? Mas não, aquele corpo ele já tinha visto na realidade. Como, se não tivera uma relação de fato com nenhum menino? Até que viu uma marca em cima do peito esquerdo. Reconhecera de onde conhecia. Era seu filho mais velho. Ficou por uns minutos petrificado. Fechou a câmera, deletou o Messenger, bloqueou todos os sites que usava e prometeu para si mesmo que nunca mais faria isso. Mas, nem ele mesmo confiou em sua promessa.

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