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domingo, 11 de março de 2012

Esperança?


Sábado. Sozinho. Em casa. Sem pais, sem badalação, sem companhia. Será esse o cúmulo da solidão? Será que nesse momento era melhor estar rodeado de pessoas que na realidade não querem meu bem, só pelo simples fato de curarem minha falta de calor humano? Ou será que ficar trancado em casa, esperando que algo surpreendente bata à minha porta? Mesmo sabendo que isso não sairá do plano dos sonhos? E, se acontecer, não vai ser nada do que imaginava? E se for? A esperança não nos deixa desistir de nossas ideias, mesmo sabendo que, no fundo, no fundo, o que a gente imagina realmente não será exatamente o que acontecerá. Tal esperança que nos trazem a ilusão e deixam a gente mais no fundo do poço. Isso me faz pensar. Será que esperança realmente é um bom sentimento? Ou será que ela nada mais é do que um sentimento dito como errado, como o ódio e a amargura? Estou mais pra essa segunda opção. Enquanto isso continuo aqui, imaginando como meu sábado poderia ser melhor. E ainda com essa maldita esperança na cabeça, de que alguma coisa útil aconteça. Ainda hoje.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Ciclo


A gente promete que nunca mais vai voltar a fazer. Só promete. Porque, no fundo no fundo, parece que queremos fazer exatamente tudo igual ao que fizemos ontem. Repetir de tudo, os acertos, as coisas que deram errado, todos os momentos. Como se tudo isso fizesse parte de uma grande receita que é a vida. Mas não, nada é igual. Antes fosse...
As pessoas são diferentes, os lugares são diferentes, os momentos diferentes. E o principal: nós mudamos e amadurecemos a cada dia que passa. Em partes. Até porque se realmente crescêssemos, não repetiríamos o que deu errado. Aliás, não repetiríamos nada. Construiríamos cada relação como se fosse única e incomparável. Tínhamos que esquecer tudo o que passamos em relações anteriores e começar uma nova (seja entre amantes, amigos, colegas de trabalho...) do zero. Assim, obteríamos diversas relações distintas. Relações que nos complementariam e nos ajudariam a crescer mais.
Mas, infelizmente, a vida não é assim. Sempre adotamos uma atitude e a tomamos como verdadeira e única. E, sobretudo, como a mais correta. E é por esse fato que relutamos tanto em tomar outra postura. Pelo fato de sempre negar e nunca assumir que erramos, de que realmente falhamos. E para provar tal dizer, sempre batemos na mesma tecla, E mais erro! Daí vem mais ilusão e mais vontade de transformar esse erro em acerto. E vivemos assim num ciclo vicioso. Mas a vida, além de não ser uma receita, não pode ser também um ciclo vicioso. A vida é a vida e não existem segredos para vivê-la.
O importante é não parar e pensar e, assim, analisá-la. Deve ser simplesmente vivida e não pensada. Ao contrário, estaremos deixando de realmente aproveitá-la.

domingo, 29 de janeiro de 2012

A metáfora da liberdade


Sempre quis fazer um piercing. Dizia que significaria minha libertação dos pais e de tudo que me cerca. Meus pais sempre foram contra essa atitude, nunca me permitiriam fazer um enquanto menor de idade. Mas, com a chegada dos tão cobiçados dezoito anos, decidi que iria fazer. Eles não poderiam negar, afinal, segundo a lei, eu respondia pelos meus próprios atos. 
Antes disso, resolvi furar uma das orelhas, a esquerda, pra ser mais exato. Tudo isso pra saber se saberia lidar com as implicações do futuro furo do piercing. Foi uma experiência difícil, minha orelha inflamou toda e o ferimento ocasionado pelo brinco demorou um bom tempo para cicatrizar, aproximadamente uns cinco meses. Tempo grande para um simples furo na orelha. Nessa fase, tive a ajuda da minha mãe, que, como mulher, sabia exatamente tratar aquilo.
Mesmo com essa dificuldade do furo na orelha, resolvi arriscar. Como já disse, o piercing representaria minha liberdade. Meu primeiro ato para aproveitar o início da minha maioridade, afinal, nessa época ainda não bebia. Queria mostrar pra todo mundo que eu era livre para escolher o que eu queria pra mim. E, naquele momento, eu queria porque queria um piercing. Um transversal na orelha direita, para se contrapor àquele brinco preto que ficou no lugar da inflamação da orelha esquerda. E fui fazer. Somente comuniquei aos meus pais, que logo me alertaram sobre as implicações daquele ato. Mas, estava irredutível. Disse que tinha pensado muito naquilo, e, de fato, tinha mesmo, e que eu estava muito seguro da minha decisão. Iria fazer e ponto final. Fui ao banco, peguei o meu dinheiro, que, no final das contas, nem era meu mesmo, e fui pro estúdio. Entrei, perguntei como era e quanto era. A atendente disse que não doía e que podia ser feito logo naquele momento mesmo. O preço me saltou os olhos: setenta reais. Pra mim, naquele tempo, era uma fortuna! Representava boa parte do que eu ganhava por mês. Fazer aquilo iria me falir por um bom tempo. Mas a vontade era tanta, que resolvi arriscar. Topei.
Entrei na sala, cheia de espelhos, me sentei na cadeira verde, toda acolchoada. Aí o medo começou a subir em mim. Sempre tive medo de sangue, de agulhas e de furos. Será mesmo que era isso que eu queria? Mas já era tarde, já tinha pagado e não tinha como voltar atrás. Resolvi encarar. Doeu, confesso. E, por sorte, ou pela própria fisiologia da cartilagem, não saiu nenhuma gota de sangue. E pronto. Já estava com um belo transversal de aço cirúrgico na orelha. Em uma de suas extremidades, havia uma bolinha, na outra, uma espécie de lança, chamado “spike”. Doía, sim, mas eu acho que eu estava tão eufórico que não ligava pra isso.
Dessa vez, não fui negligente, como quando furei a orelha, e cuidei direito da minha nova aquisição. Passava água quente e pomada todos os dias. Mesmo assim, não foi uma cicatrização completamente tranquila. Mas consegui passar por cima dessas dificuldades. Porém, uma mensagem ficou gravada: não há liberdade sem responsabilidade.
A partir dessa data, vivenciei muitas coisas na minha vida. Morei sozinho pela primeira vez, aprendi a fazer coisas que nunca sonhei em fazer, conheci pessoas diferentes. E, finalmente, experimentei a real liberdade.
Mas, como nem tudo são flores, houve dificuldades, também. E eu, talvez pela pouca idade, tive uma experiência boa, mas eu não estava pronto para seguir a diante. Tive a certeza que, naquele momento, pelo menos pra mim, liberdade não era tudo na vida. Há várias coisas por trás da liberdade e que a gente só aprende mesmo com o passar do tempo. Uma pessoa só consegue usufruir de sua liberdade quando tem uma base. Uma base que é um misto de moral, desejo individual e conhecimento da vida. E eu definitivamente só tinha os dois primeiros vértices desse triângulo: sempre soube o que queria da vida e sabia que “minha liberdade terminava quando a do outro começava”. Mas de vida real, de responsabilidade, eu não sabia nada.
Com medo, recuei, precisava disso pra mim. E o piercing-liberdade continuava lá. Apesar de tudo, ainda tinha um carinho grande por ele, e ainda um pezinho na liberdade sem medidas. A lança, o “spike”, da ponta inferior representava bem esse lado da liberdade. Esse lado que machuca. Já havia me machucado diversas vezes com essa parte do acessório, inclusive. Com o tempo, fui vendo que a liberdade não era só sair fazendo o que bem quiser. E, percebi que aquele acessório que, um dia representou uma nova fase da minha vida, não fazia mais sentido. Que ele foi importante, que através dele, aprendi uma lição que levarei para o resto da vida. Mas que o significado dele no meu corpo já não era aquele de anos atrás, quando fui ao estúdio.
Como a liberdade irresponsável, foi difícil retirar o piercing da orelha. O alto custo na época e o amor que eu peguei por aquele pequeno objeto foram decisivos para continuar com ele por algum tempo. Ainda não estava pronto. Até que um dia tive a simples vontade de tirá-lo. Veio naturalmente, assim como a real liberdade, quando você aprende realmente lidar com as implicações dela. Hoje guardo aquele tempo, juntamente com o piercing, com nostalgia, mas que era preciso ser superado. Porém, continuo com o brinco na orelha direita, afinal, um pouco de liberdade não faz mal a ninguém. 

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Recomeçar


É. Cheguei naquele momento da vida em que você não vê mais nenhum sentido nas coisas que você faz ou vê. Num momento em que cada atitude sua é rejeitada por você mesmo. Vê que cada uma é em vão, não tem mais sentido em ser feita. Aquele momento em que tudo que você mais queria era que tudo que existe ao seu redor simplesmente explodisse. Todos os cenários e pessoas que te cercam indo embora rapidamente e sendo suplantados por novos e diferentes. Num mundo novo, começando a minha vida simplesmente do zero. Tendo apenas em mim a consciência das coisas que eu fiz de certo ou de errado nessa vida. Seria muito bom viver a vida já sabendo das dificuldades que terá que enfrentar e, sendo assim, sabendo como evitá-las. Mas, infelizmente não nascemos sabendo disso. Imagine uma criança pensando nas pedras que ela terá em seu caminho futuro? Temos que nos adequar ao mundo em que vivemos. Uma batalha difícil e que exige mais de nós a cada dia que passa. Porque a cada momento a nossa felicidade parece estar mais distante, mais difícil de ser alcançada. E, sempre acontecem coisas na nossa vida que nos fazem parar e pensar se é aquilo mesmo que a gente quer. Na maioria das vezes, nem bem pensamos. Tomamos decisões precipitadas e, muitas vezes incorretas. Tarde demais. Desistir, mudar. São decisões, que, mesmo parecendo inocentes, afetam a nossa vida profundamente. Sempre gostei de mudança, mas essa parece ser a mais distante e difícil de ser encontrada. Sair do comodismo e ir em busca do melhor, aliás, do desconhecido que tem ares de boa nova. É difícil largar o estado de bem estar pra correr em buscar de algo novo, que te deixe com os olhos brilhantes. E o mais difícil é ter de encarar os mesmos problemas, mais uma vez. E não sei se consigo passar por isso de novo.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Paredes


Sabe aquela sensação de não se sentir pertencente? Quando você sente que tudo a sua volta, as paredes, os móveis, tudo, não tem querem naquele lugar? Que até pra eles você não é bem vindo. Mas você não tem pra onde correr, porque tudo que você tem é aquilo. É isso que eu sinto. Não me sinto parte integrante do todo que eu vivo. Uma exceção. Um diferente no meio de tantos iguais. Um igual no meio de tantos diferentes. Diferentes de mim, apenas. Um diferente que é excluído, deixado à margem, em segundo plano. Um peixe fora d'água, mesmo sabendo que aquela água veio do seu próprio aquário, mas que, mesmo assim, ela não está nas suas condições ideais para a sobrevivência. E isso vai matando o animal lentamente, sem que ninguém perceba, somente ele próprio. O que é preciso fazer pra mudar essa situação? É preciso que eu mude? Que eu renuncie minha possível futura felicidade a fim de me adaptar ao mundo? Ou que continue sendo quem sou e sofra pressões, assim como hoje? Qual me parece a melhor maneira de ser infeliz? Nunca descobrirei.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Gritos no silêncio



Pensei por horas, levantei, abri a janela e gritei bem alto. Sempre guardo tudo que acontece comigo. Não consigo me abrir, me livrar dos meus problemas. Não que isso faça bem pra mim. O grito só serve para aliviar a minha dor. Nunca sofri tanto por uma pessoa quanto agora. Será que tudo que fiz foi em vão? Largar minha vida encaminhada, meu emprego, tudo! Só pra você! E parece que isso não valeu de nada. Agora passo meus dias nesse quarto, já não tenho mais televisão, muito menos internet, sem contato com o mundo... E, o pior, sem sua presença! Sofri tanto durante esses anos, sempre calada. Mas acho que me acostumei com essa situação. Tudo o que eu não queria era te magoar. Aceitava tudo o que me falava, me contava, me iludia. E tudo isso por amor! Fiz isso tudo porque te amei muito! Ainda amo... E de que valeu? Encontrar você com outra na nossa própria cama? Guardei tudo pra mim durante esses anos todos. E só ilusão! Tudo o que eu vivi durante minha vida toda mal passou de um conto. Um conto de fadas que sempre idealizei na minha cabeça e que tentei ao máximo transformá-lo em realidade. Mas tudo não passou de uma história de terror...
Agora estou aqui, sem vontade de fazer qualquer coisa. Sem família, sem amigos... Renunciei a minha vida pra ficar com você! Larguei, briguei com todos... Só por sua causa! Só porque você não ia com a cara deles. Mas, afinal, com a cara de quem você vai, não é mesmo? Acho que nem a sua! Acho que você faz isso tudo só para ter uma alegria. Nunca conseguiu nada sozinho. Sempre eu estava ao seu lado, expondo suas qualidades. Qualidades que eu pensava que você tinha.  E é isso que eu recebo. Hoje vejo que todas elas eram fruto da minha mente apaixonada. Será que um dia você realmente me amou?
Estou sem chão, nada me move a continuar vivendo. Minha única alegria é comer. Estou muito mais gorda que antes. Satisfeito? Agora não vai ser difícil me trocar por uma mais magra! Olha só, eu, que sempre tive um corpo perfeito, abrindo mão dele só por você. Logo você, que me deixou nesse estado. Eu mereço? Era eu quem devia ter feito o que você fez comigo! Nunca entendi porque me casei com você. Ah, é o amor, esse sentimento idiota! Veja só, você não tinha nada a acrescentar na minha vida! Só passar por humilhações, raivas!
Tento pensar menos em você. Mas não consigo. Qualquer cantinho desse apartamento me faz lembrar você. Seja no fogão, que antes era meu melhor amigo, quando me matava de cozinhar pra você, hoje, é meu inimigo, me obrigando a comer mais e mais. Por sua causa. Seja a cama. Ah, lá eu tenho certeza que você viveu momentos felizes. Ao contrário de mim... Nunca consegui sentir nada. Mas nunca falei, tinha medo de te magoar, de te deixar triste. Mas hoje vejo que não. Que se eu não senti nada, foi sua culpa! Só sua! Você deveria ter se preocupado comigo. E nada! Nem um ‘como vai?’ eu recebia!  Nunca! Por isso que me tornei o que sou agora. Pareço mais um monstro do que uma mulher. Sua desvalorização fez com que eu parasse de cuidar de mim, de ir ao salão, de ir ao médico, de fazer algum exercício físico. De fazer o que eu realmente sempre gostei. Aliás, você sabe das coisas que eu realmente gosto? Mas, mesmo assim, você não me notava nem feia. Foi por isso que me trocou. Se nunca gostou de mim, por que me enrolou por tanto tempo? Por que me traiu? Você queria que eu me humilhasse. Você queria ter pena de mim! E rir da minha cara. Conseguiu.
E é por isso que eu grito. Grito por não conseguir falar isso tudo pra você. Grito por continuar nessa situação. Por, mesmo depois de tudo, continuar com você. Continuar te amando. Continuar aceitando tudo que passou e tudo que vou passar. Grito por ainda não ter coragem de mostrar meus sentimentos. Grito, grito, e só grito. Grito na esperança de que um dia você perceba o mal que está fazendo comigo. 

sábado, 19 de novembro de 2011

Sentimento, pra que?

Agora é o momento certeiro. Chegou ao ponto. Aquele ponto decisivo. Aquele chave. Será que vale a pena investir, mesmo sabendo que a minha cara vai ser quebrada logo em seguida, como sempre? Por que será que eu sempre me imagino numa relação, desde a primeira vez? Qual a minha dificuldade em deixar as coisas caminhar por elas mesmas? Sou muito afobado, quero tudo pra hora, sou pós-moderno, enfim. Mas como fazer se eu sou assim, se não sei deixar o tempo pensar e, enquanto isso, deixar a minha vida passar? Quantas dúvidas. Tudo o que eu queria é não ter sentimentos. Eles sempre acabam nos traindo. Queria ter nascido bem no começo da modernidade, onde todos colocavam a razão sobre o sentir. Queria não me relacionar com as pessoas, assim, não me decepcionaria com elas. Ou não me decepcionaria comigo. Ou não deixaria que meus sentimentos me fizessem acreditar em certas coisas que de fato não existem. Coisas que, imaginando, idealizando, pegando outro sentido, cheguei á conclusão. Sem ao menos duvidar, questionar. Quanta falta de atitude! Será que um dia vou aprender?